Locomotiva 7202

Breve histórico

A GE C30-7A nada mais é do que uma variante da antiga C30-7 com algumas atualizações. Externamente é similar ao modelo antigo, tendo como diferença mais significativa o arranjo das portas de acesso ao longo do corpo longo da locomotiva; são seis portas altas de cada lado (ao invés de oito como nas C30-7). A principal diferença entre o modelo atualizado e o antigo é a motorização: o antigo motor diesel FDL de 16 cilindros foi substituído por um de 12 capaz de produzir os mesmos 3.000 cavalos de com um consumo menor de combustível.

A ferrovia norte-americana Conrail foi a primeira e única daquele país a adquirir as C30-7A, sendo 50 unidades fabricadas entre maio e junho de 1984 e entregues no mesmo ano, não havendo encomendas posteriores.

Das 50 unidades da Conrail, em 2001 doze foram adquiridas pela Chicago Freight Car Leasing Austrália em 2001 que utilizou seus componentes de tração na reconstrução de 442 locomotivas da classe GL, que vieram a entrar em operação na Austrália a partir de 2003.

Somente em 1990 a Cutrale-Quintella veio a realizar um segundo pedido de locomotivas desse modelo, sendo essa a última compra de locomotivas C30-7A no mundo. Foram sete unidades ao todo, numeradas de 7201 a 7207 destinadas a tracionar tracionar trens de soja e laranja (farelo cítrico) para exportação, no trecho da estação Boa Vista (Campinas) à estação Perequê (baixada santista), com cerca de 250 km de extensão, sendo entregues para operação no dia 10 de janeiro de 1991. Eram operadas e mantidas pela FEPASA e quando do processo de desestatização da malha ferroviária, passaram a ser operadas e mantidas pela Ferroban, que se tornou Brasil Ferrovias, posteriormente incorporada pela ALL e finalmente Rumo.

Foram retiradas de operação em 2017, sendo devolvidas ao proprietário (Cutrale-Quintella), com exceção da nº7204, que chegou a receber anteriormente a pintura da ALL e permaneceu desativada e armazenada em Triagem Paulista onde foi desmontada posteriormente. As demais foram vendidas, sendo todas adquiridas por uma empresa de reciclagem que chegou a desmontar as locomotivas, restando então apenas a nº7202.

Após algum tempo, a 7202 foi oferecida para a ABPF pelo proprietário, onde o mesmo manifestou-se que caso não houvesse interesse da associação em adquirí-la, a mesma teria o mesmo destino das demais: desmanche para reaproveitamento dos materiais. Uma visita foi então agendada para se avaliar o estado atual da locomotiva e a partir daí iniciaram-se as negociações, onde os detalhes e valores foram acordados e a locomotiva então adquirida da empresa de reciclagem pela ABPF, evitando-se assim que a mesma tivesse o mesmo destino das demais.

No segundo semestre de 2018, em parceria com a Rumo Logística, a locomotiva GE C30-7A nº 7202 da ABPF foi reformada nas oficinas de Araraquara, sendo colocada em ordem de marcha, com revisão de toda a parte mecânica e elétrica bem como recebeu trabalho intenso de funilaria em toda a lataria para aplicação de nova pintura.

Numa iniciativa inédita no Brasil, foi concebido um layout de pintura “heritage”, a exemplo do que já vem sendo praticado pelas ferrovias norte-americanas a anos. O que ficou conhecido como pintura “heritage” nos E.U.A. nada mais é do que um layout de pintura inspirado nos padrões de pintura de antigas companhias ferroviárias daquele país que já deixaram de existir a anos sendo então uma forma de homenagem e reconhecimento por parte das atuais companhias a aquelas que antes circulavam por aquelas linhas.

No caso do layout de pintura desenvolvido para a 7202 partiu-se da mesma premissa dos norte-amercianos: homenagear uma antiga companhia ferroviária que foi a construtora das linhas por onde a locomotiva iria circular.

Para tanto foi elaborado um esquema de pintura alusivo à antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que para além estaria completando 150 anos em 2018 (1868-2018). Foram então adotadas as cores básicas para pintura de locomotivas diesel-elétricas da antiga companhia, bem como simbologia (letreiros, logotipos) adaptando-as ao modelo da 7202; para além, visou-se também preservar a história da própria locomotiva na parte traseira, onde foi mantido o padrão de pintura original, inclusive com a inscrição e logotipo da FEPASA, que foi a primeira sucessora da Companhia Paulista. Para a transição suavizada entre a pintura “heritage” e a porção onde foi mantida o padrão original da 7202 foram utilizadas duas faixas na diagonal, sendo uma mais estreita na cor azul e uma mais larga na cor creme, além de serem as cores utilizadas pela Paulista.

Na porção central do corpo da locomotiva, sobre o fundo pintado na cor prata, foram aplicados a inscrição “PAULISTA” com a tipologia original da época e um logotipo que simboliza a ferrovia e a união entre a Rumo Logística e a ABPF na causa da preservação da memória ferroviária. Logo atrás da cabine, foi incluída a inscrição: “homenagem aos 150 anos da ferrovia “padrão””, em alusão ao da Cia. Paulista de Estradas de Ferro que ficou conhecida no meio ferroviário como “a ferrovia padrão” devido ao auto nível de suas linhas, material rodante e qualidade dos serviços prestados, se destacando das demais existentes no país.

Hoje, Rumo e ABPF buscam ser o “padrão” em suas respectivas áreas de atuação, sendo a Cia. Paulista uma inspiração para ambas.

Instalação do ATC

Visando adequar a locomotiva C30-7A nº 7202 para operação nas linhas da CPTM, foi necessário a instalação de sistemas de sinalização de bordo. Para isso, ao invés de instalar um equipamento novo, optamos por utilizar um antigo sistema de Cab Signal fabricado pela USS (Union Switch & Signal) na década de 1960, que exibia as condições da sinalização na cabine de controle para o maquinista.

Esse equipamento foi amplamente utilizado nas linhas da EFSJ até meados de 2007, quando deixou de ser utilizado pelas ferrovias. Para tornar isso possível, técnicos da ABPF desenvolveram um sistema de interface baseado em falha segura, que possibilita o equipamento funcionar no monitoramento e controle de velocidade da locomotiva, funcionando como A.T.C. – speed control, exigido para se operar atualmente.

O monitoramento da velocidade foi feito utilizando o cronotacógrafo RT9, fabricado na Suíça pela Hasler Bern, equipamento esse original da locomotiva e amplamente utilizado na época da Fepasa.

O sistema já foi verificado, testado e aprovado pela engenharia da CPTM e a locomotiva está homologada para circular pela malha da companhia.

Foram realizados três dias de testes, sendo o sistema exaustivamente testado conforme a seguir:

  • O primeiro na linha de testes para conferência do sistema e identificação das correções necessárias;
  • O segundo no trecho, da Lapa até Jundiaí;
  • O terceiro novamente na linha de testes para verificação final.

Concluídos todos os testes e comprovado o correto funcionamento do sistema, foi dada a homologação para a locomotiva.

Para além, durante o período de confecção do sistema, foram realizados vários testes afim de ir se verificando cada etapa da montagem, garantindo assim um produto final com o mínimo de correções a serem realizadas.

Pela primeira vez os recursos oferecidos pelo cab signal e velocímetro RT9 foram totalmente utilizados, trazendo segurança, economia, e permitindo a preservação de equipamentos da década de 60 na operação ferroviária.

  • Fabricante: General Eletric
  • Data de fabricação: dezembro de 1990
  • Número de série: 2501331
  • Tipo: C30-7A
  • Motor diesel: 12-FDL7B
  • Diâmetro das rodas motrizes: 1016mm
  • Peso total: 180.000kg (locomotiva em ordem de marcha)
  • Esforço de tração: 33.978kg
  • Bitola: 1,60m
  • Ferrovia original: locomotiva particular (Comercial Quintela)